quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A NATUREZA ESTÁ RECICLANDO... VEJA ESSE NINHO

PÁSSAROS REUTILIZAM BITUCAS DE CIGARROS PARA FAZEREM NINHOS





Por ter substâncias que espantam parasitas, pássaros urbanos utilizam bitucas para formarem seus ninhos. Danos à saúde dos animais ainda são desconhecidos.





O que fazer com as bitucas de cigarro? Essa nunca foi uma pergunta fácil de responder, já que se trata de um material com longo tempo de decomposição (entre cinco e dez anos), com muitas substâncias tóxicas e que proporciona grande quantidade de lixo (atualmente são 4,5 trilhões de pontas por ano). E quem achou uma resposta possível para a pergunta inicial foram os pássaros. Um grupo liderado pela pesquisadora mexicana Monserrat Suárez-Rodrígues, buscando uma resposta para o fato desses animais utilizarem bitucas na construção de seus ninhos, surgiu com a seguinte pergunta: já que os pássaros constroem seus ninhos com materiais naturais ricos em compostos que inibem parasitas, eles podem estar utilizando as bitucas para fazer o mesmo?

Para verificar essa teoria, foram analisados ninhos de pardais e de outras espécies urbanas. O resultado encontrado mostrava que quanto maior a quantidade de acetato de celulose, componente das pontas, menor a quantidade de parasitas. Além disso, a pesquisa mostra que quanto maior a quantidade de nicotina nos filtros, menor a quantidade de parasitas.

Mas nem tudo é positivo. Ainda não é possível dizer o quão prejudicial é, para os pássaros, a presença dos compostos carcinogênicos e tóxicos encontrados nos cigarros.

Histórico de tentativas
Os avanços tecnológicos já permitem algum tipo de reutilização das bitucas. Cientistas chineses descobriram uma forma de extrair substâncias químicas desse tipo de material que podem ser utilizadas na produção de anticorrosivos e biólogos paranaenses criaram uma maneira de utilizar seus resíduos tóxicos no processo de hidro-semeadura.



Tecnologia desenvolvida no Paraná retira resíduos tóxicos das pontas de cigarro e as utiliza no processo de hidrossemeadura
O hábito de fumar já foi alvo de diversas campanhas contrárias à prática, inclusive com a criação de leis. Em abril de 2009, foi aprovada a lei antifumo, que proíbe o uso do cigarro em ambientes fechados em todo o Estado de São Paulo. Deixando de lado o fato de que fumar não faz bem a saúde, o ato de jogar a ponta do cigarro no chão é muito comum e aumentou ainda mais com leis antifumo e com a criação de fumódromos externos, mas pouca gente percebe que a bituca é um lixo ainda mais perigoso por conter substâncias tóxicas. O que fazer?

Por conta dessa falta de educação e às vezes até descuido, o empresário Roberto Façanha, da empresa Ecocity, responsável por implementar soluções ambientais inovadoras em empresas, comércios e órgãos públicos de Curitiba, criou o programa Bituca Zero que além de coletar as pontas de cigarro, faz a reciclagem das bitucas de locais que solicitem o serviço.

Segundo Façanha, o interesse pelo tema surgiu devido à preocupação com o excesso de bitucas presente nas ruas de Curitiba, onde o consumo de cigarros gera cerca de oito milhões de resíduos desse tipo diariamente. “Muita gente não enxerga a questão como um dano. Pensam que o problema é só da prefeitura. Mas a mentalidade está mudando, os órgãos estão acreditando”, diz o diretor da Ecocity.

Após um ano e meio de pesquisas com biólogos, o sistema teve início em 2011 e já possui contato de empresas, além de uma parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Com a implantação de coletores de bituca nos lugares solicitantes, a arrecadação é feita a uma ou duas vezes por semana. A contagem ocorre no local e o material é destinado para a reciclagem.



A reciclagem

O processo faz com que todas as partes da bituca sejam reaproveitadas. O restante do tabaco, o filtro e o papel são separados por um processo mecânico e todo o resíduo é colocado em um biodigestor. Depois de 90 horas, bactérias específicas quebram as toxinas e as retiram dos resíduos, que passam por uma separação.

Os filtros irão compor uma manta de sustentação que ajudará em processos de hidrossemeadura (processo que reveste encostas sem vegetação) em locais degradados, já o papel e restos de tabaco serão usados como fertilizantes, que posteriormente podem ser aplicados na mesma área que a manta está sendo usada.

O cigarro possui cerca de 4,7 mil substâncias tóxicas e as bitucas podem causar estragos como poluição das ruas, entupimento de tubulações e contaminzação de rios córregos. Segundo Roberto Façanha, “não adianta só coletar, mas sim dar uma destinação correta ao material ao invés de queimar”. A expectativa do inovador é de que a iniciativa se repita em outras cidades do Brasil e que as cerca de cinco toneladas coletadas de resíduos coletadas diariamente em Curitiba ganhe mais dígitos no restante do país.

Texto: Diego Menezes
Fotos: http://www.sxc.hu/



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